Uma diferença fundamental entre os procedimentos para preservação de documentos digitais em comparação à preservação de documentos em suportes tradicionais é a maior velocidade de evolução tecnológica dos documentos digitais.
A tecnologia utilizada para a fabricação de suportes tradicionais evolui lentamente. Um exemplo emblemático é o papel. Esse suporte mudou muito pouco nos últimos séculos. Por outro lado, os suportes utilizados em documentos eletrônicos e digitais evoluiu tanto, somente nos últimos 50 anos, que a tecnologia atual não tem quase nada em comum com as primeiras tentativas de registro.
Essa constatação é de extrema importância, pois como já defendemos, os procedimentos para preservação fundamentam-se na tecnologia específica dos suportes físicos utilizados. Dessa forma, uma rápida mudança nas tecnologias desses suportes tem um impacto direto nas ações de preservação digital, principalmente, no que diz respeito às ações preventivas.
Um exemplo que ilustra o que estamos defendendo são os suportes do tipo discos do Compact Disc (CD). Inicialmente, o mercado disponibilizou discos do tipo CD-ROM, que utilizam uma tecnologia onde as marcas correspondentes aos bits são prensadas em metal, alguns anos depois, já estavam disponíveis, comercialmente, os discos do tipo CD-R. Nessa versão os dados são gravados num processo químico utilizando luz a lazer na gravação.
Do ponto de vista da preservação preventiva desses suportes, essas diferenças tecnológicas são fundamentais. A incidência de luz nos discos CD-ROM é muitíssimo menos danosa do que a mesma quantidade de incidência de luz em discos do tipo CD-R, que utilizam produtos sensíveis a luz em sua estrutura física.
Quem quiser se aprofundar mais nos detalhes tecnológicos de discos do tipo Compact Disc, pode consultar um trabalho de 2003 que é bastante completo sobre o tema. Há também um artigo meu, esse em português, que aborda a preservação de documentos digitais, considerando a estrutura dos suportes.
Portanto, é preciso ser cauteloso sobre o que chamo de "armadilha tecnológica" para as pesquisas sobre preservação digital. Limitar os esforços a compreender e aplicar procedimentos para suportes - e, na verdade, qualquer tecnologia específica - produz produtos que, em pouco tempo, estarão muito defasados para aplicações práticas.
Até a próxima!!
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