terça-feira, 27 de setembro de 2011

Evento Preservação Digital

De 13 a 15 de setembro de 2011 aconteceu o CTCM (Conferência sobre Tecnologia Cultura e Memória) em Recife.

O evento foi um dos raros momentos onde se discute a questão do documento digital e, inclusive, houve muito espaço para o tema Preservação Digital.

Vale a pena verificar o link do evento http://www.liber.ufpe.br/ctcm/programa.php

No evento, tivemos a oportunidade de apresentar um trabalho sobre Preservação do Vídeo Digital, agora é aguardar a publicação dos ANAIS para conferir o artigo completo.


terça-feira, 30 de agosto de 2011

Dilema Digital

Em 2007 e 2008, a academia de Artes e Ciências de Hollywood publicou um trabalho interessante sobre a preservação do cinema diante da realidade digital. O título original do trabalho é Digital Dilema.

A cinemateca brasileira, publicou uma versão brasileira disponível gratuitamente em seu sítio. Quem quiser pode adquirir uma versão impressa pagando uma módica quantia.

Segundo a versão brasileira "Esperamos criar, com esta publicação, uma oportunidade para que todos os interessados na preservação e na difusão do patrimônio cinematográfico e audiovisual possam se associar na busca por soluções ainda não encontradas e que não podem ser alcançadas sem a união de muitos esforços.”

Agora é conferir o trabalho!!

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Política da UNICAMP

Ocorreu na semana passada um evento na UNICAMP em São Paulo sobre repositórios de documentos digitais, estes são os links para os slides e para as palestras e entrevistas com os organizadores.

Tive a oportunidade de participar do evento e tomei conhecimento de uma resolução da UNICAMP publicada em 1º de julho de 2011.

O documento me parece da maior importância!!

São 37 artigos e dois anexos que “Estabelece diretrizes e define procedimentos para a gestão, a preservação e o acesso contínuo aos documentos arquivísticos digitais da Universidade Estadual de Campinas.”

Desses artigos, seis deles tratam especificamente de preservação digital. Os demais tratam de gestão, digitalização e segurança de documentos digitais.

Até onde já pude descobrir, trata-se da primeira política de preservação digital brasileira, ainda que não trate somente de preservação digital. É motivo para se comemorar!!!

No link acima pode-se acessar o texto completo e os artigos sobre preservação digital são:
Art. 21 - Aos órgãos e unidades custodiadores de documentos arquivísticos digitais, integrantes ao SIARQ/UNICAMP caberá:

a) adotar estratégias, procedimentos e técnicas de preservação digital com sustentação legal, de maneira a possuir infra-estrutura organizacional, incluindo recursos humanos, tecnológicos e financeiros adequados, para produzir, receber, descrever, preservar e dar acesso aos documentos arquivísticos digitais sob sua guarda, garantindo o armazenamento e segurança pelo tempo que for necessário;

b) garantir a manutenção e atualização do ambiente tecnológico como hardware, software, formatos de arquivo e mídias de armazenamento digital, responsável pela preservação e acesso aos documentos arquivísticos digitais.

Art. 22 – As estratégias, procedimentos e técnicas de preservação deverão ser integrados aos programas de gestão arquivística de documentos, registrados e revisados periodicamente, visando controlar os riscos decorrentes:

a) da degradação do suporte (mídia);
b) da obsolescência tecnológica;
c) da dependência de fornecedor ou fabricante.

Art. 23 – Os riscos decorrentes da degradação do suporte devem ser evitados por meio da adoção de adequadas condições ambientais de armazenamento e manipulação, do uso de suporte de qualidade, com vida útil prevista apropriada aos propósitos da preservação, do controle do processo de gravação, da geração de cópias de segurança e seu armazenamento em local fisicamente separado, e da aplicação de técnicas de migração, antes do fim da vida útil do suporte.

Parágrafo único - As condições ambientais adequadas para armazenamento do suporte e a sua vida útil prevista ou pretendida devem ser indicadas pelos fabricantes e por entidades isentas e reconhecidas, com base em estatística de uso.

Art. 24 – Os riscos decorrentes da obsolescência tecnológica devem ser evitados com o monitoramento permanente dos avanços tecnológicos, ações rotineiras de manutenção e aplicação de técnicas de preservação digital comumente utilizadas, tais como migração, emulação, encapsulamento e conversão de dados.

Art. 25 - Os riscos decorrentes da dependência de fornecedor ou fabricante de software, hardware e formato devem ser evitados com a migração, com a utilização de soluções independentes e de padrões abertos de formatos de arquivo, de ampla aceitação por organismos oficiais, em âmbito nacional e internacional, e de recursos tecnológicos estáveis e consolidados no mercado.

Art.26 - As ações de preservação são contínuas e devem ser implementadas e monitoradas desde a produção dos documentos até a sua destinação final por sistema informatizado de gestão arquivística, a que se refere o artigo 5º desta Resolução.

Parágrafo único – A recuperação e disponibilidade do acervo digital deverão ser asseguradas mediante eventual descontinuidade, sinistro ou falta de manutenção de sistema informatizado de gestão arquivística, ou de quaisquer outros sistemas gerenciadores.


segunda-feira, 13 de junho de 2011

Preservação de CDs

Há um relatório sobre a preservação de CDs e DVDs de ótima qualidade e bastante completo. Já conhecia este trabalho a alguns anos, mas hoje me deparei com um anexo dele que é um Guia Rápido sobre cuidados com o manuseio e guarda de CDs e DVDs. Achei uma boa idéia reproduzí-lo aqui.

terça-feira, 31 de maio de 2011

Formatos & Preservação Digital

O termo formato parece ser muito caro quando se trata de Preservação Digital. Aparece com muita frequência nos textos e discussões sobre PD e a meu ver aparece em contexto de grande importância.
Por isso, vamos abordar esse tema nas próximas postagens!

Em se tratando desse termo, o que aparece com mais frequência, no âmbito de discussões sobre PD, é o termo formato de arquivo. Mas vamos abordar também os formatos de mídia.
Vamos iniciar recuperando algumas definições sobre esses termos:


Formato de Arquivo


“The organization of data within digital objects, usually designed to facilitate the storage, retrieval, processing, presentation and/or transmission of the data by software.” O que traduzimos como “A organização de dados em objetos digitais, usualmente projetado para facilitar o armazenamento, recuperação, processamento, apresentação e/ou transmissão de dados por software.” (Interpares)


Digital Object


“A discrete aggregation of one or more bitstreams and the metadata about the properties of the object and, if applicable, methods of performing operations on the object.” O que traduzimos como “Uma agregação discrete de um ou mais sequências de bits (bitstreams) e os metadados sobre as propriedades dos objetos e, se aplicável, métodos para executar operações nesse objeto.” (Interpares)

Não encontrei definições para formatos de mídia, talvez porque não sejam chamados por este termo. Encontrei:


Digital Medium


“Physical material, such as a CD, DVD, DAT or hard disk, used for storage of digital data.” Ou “Material físico, como um CD, DVD, DAT ou disco rígido, usado para armazenamento de dados digitais.” (Interpares)
Essas definições serão nossos pontos de partida. Até a próxima!

Estratégias para preservação e acesso

No Recife, em meados de setembro acontece o Conferência sobre Tecnologia , Cultura e Memória : Estratégias para a preservação e o acesso à informação (CTCM).

Vale a pena conferir a programação!

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Documentos digitais e sua migração

Vamos tratar aqui sobre o problema da migração de documentos digitais, no que diz respeito à parte lógica do documento digital, ou seja, tudo menos o suporte físico utilizado em seu registro. Infelizmente, não se trata de uma tarefa simples, como pode dar a impressão de ser à primeira vista.

Vamos começar analisando o quê pode ser migrado, para depois entrar na seara sobre como isso deve acontecer.

Basicamente, o que pode ser migrado é o formato de arquivo utilizado no documento digital, por exemplo, um formato JPEG ou um formato TXT. No entanto, minhas pesquisas tem mostrado que formatos de arquivo podem ser muito complexos. Dependendo do formato de arquivo específico, será necessário considerar a criptografia utilizada, o tipo de compressão de dados utilizado ou o conjunto de metadados adotado. Além disso, notadamente para os formatos de vídeo digital, não se trata necessariamente de um único formato de arquivo, mas de um conjunto de elementos utilizados para o registro do vídeo digital. Dessa forma, é preciso cuidado ao se falar em migrações de formatos de arquivo, pois para cada caso considerado, vários outros problemas podem ter que ser analisados e solucionados.

Intimamente ligado à questão anterior, há considerações sobre como executar a migração, ou melhor, o que considerar durante o processo em si de migração. Essas considerações terão como resultado um documento digital migrado que possui Autenticidade ou não. O termo Autenticidade aqui significa “Valor de confiabilidade de um documento como documento, ou seja, a qualidade de um documento de ser o que se propõe a ser e que está livre de alterações ou corrupções.” (projeto INTERPARES termo authenticity).

Dependendo do conteúdo do formato de arquivo, certas características técnicas deverão ser consideradas. Por exemplo, para o vídeo digital, a nova versão produzida deve possuir a mesma qualidade do original, em termos de resolução de imagem. Não poderá haver alterações substanciais nas cores originais.

O ambiente onde ocorre a migração também deve ser levado em consideração. Assim, pode ser necessário controle (através de registros de auditoria) e autorização para fazer esse processo. Dependendo do documento digital, poderá ser necessária autorização legal para execução dessas migrações.

Os custos envolvidos pode ser um outro fator importante a ser levado em consideração. Isso se aplica a casos onde há um grande volume de documentos digitais necessitando de migração. Importante lembrar que esse processo pode precisar ocorrer juntamente com a migração dos suportes utilizados e seus respectivos custos.

Finalmente, em relação ao como fazer migrações de formatos de arquivo, será de grande ajuda o uso de critérios para a escolha de um novo formato de arquivo, esses critérios são baseados tanto em aspectos técnicos como também pretendem garantir autenticidade da migração executada. Nossa dissertação de mestrado investigou exatamente esse aspecto da preservação digital e pode ser de ajuda para quem esteja envolvido com esse problema.

Até a próxima.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Suportes Físicos 4

No âmbito da preservação de documentos digitais, pode-se incluir na categoria de ações preventivas os procedimentos para MIGRAÇÃO de documentos digitais. Pode-se falar aqui tanto em migrações de suportes físicos como também da migração do conteúdo lógico. Vamos analisar um pouco cada um desses procedimentos.

As migrações de suportes físicos de documentos digitais como os discos do tipo Compact Disc (CD) são muitas vezes chamadas de refreshing quando os suportes são substituídos por outros iguais, porém mais novos e, consequentemente, em melhores condições de armazenamento e uso. A migração, propriamente, ocorrerá quando os documentos digitais gravados em determinado suporte físico, digamos um disco do tipo DVD, passam a ser gravados num outro suporte físico diferente do original, como uma fita magnética de determinado tipo.

Por que fazer essas migrações?

A motivação é a percepção de que os suportes físicos utilizados para registrar o conteúdo de documentos digitais possuem uma vida útil determinada. Para os documentos digitais, essa vida útil não está diretamente ligada somente aos materiais utilizados na fabricação dos suportes, mas também em relação aos equipamentos utilizados para reproduzir esses mesmos suportes. Ao longo do tempo, à medida que surgem novas tecnologias, determinados suportes físicos deixam de ser produzidos e seus respectivos equipamentos de gravação e reprodução também.

Um exemplo de obsolescência de suporte/equipamento são os discos chamados ZIP DRIVE, do fabricante IOMEGA http://go.iomega.com , agora considerados obsoletos e ultrapassados. Eram discos com capacidade de 100 ou 200Mbytes. Hoje, dispositivos como os PenDrives (muito mais simples e baratos) estão disponíveis com capacidades de armazenamento dezenas de vezes superior a isso.

As migrações de documentos digitais ao nível lógico, por sua vez, são um tema bem mais mais complexo, mesmo para o formato resumido que apresentamos nossos artigos aqui, por isso vamos tratar dele na próxima oportunidade.

Até lá!

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Suporte físico 3

Uma diferença fundamental entre os procedimentos para preservação de documentos digitais em comparação à preservação de documentos em suportes tradicionais é a maior velocidade de evolução tecnológica dos documentos digitais.

A tecnologia utilizada para a fabricação de suportes tradicionais evolui lentamente. Um exemplo emblemático é o papel. Esse suporte mudou muito pouco nos últimos séculos. Por outro lado, os suportes utilizados em documentos eletrônicos e digitais evoluiu tanto, somente nos últimos 50 anos, que a tecnologia atual não tem quase nada em comum com as primeiras tentativas de registro.

Essa constatação é de extrema importância, pois como já defendemos, os procedimentos para preservação fundamentam-se na tecnologia específica dos suportes físicos utilizados. Dessa forma, uma rápida mudança nas tecnologias desses suportes tem um impacto direto nas ações de preservação digital, principalmente, no que diz respeito às ações preventivas.

Um exemplo que ilustra o que estamos defendendo são os suportes do tipo discos do Compact Disc (CD). Inicialmente, o mercado disponibilizou discos do tipo CD-ROM, que utilizam uma tecnologia onde as marcas correspondentes aos bits são prensadas em metal, alguns anos depois, já estavam disponíveis, comercialmente, os discos do tipo CD-R. Nessa versão os dados são gravados num processo químico utilizando luz a lazer na gravação.

Do ponto de vista da preservação preventiva desses suportes, essas diferenças tecnológicas são fundamentais. A incidência de luz nos discos CD-ROM é muitíssimo menos danosa do que a mesma quantidade de incidência de luz em discos do tipo CD-R, que utilizam produtos sensíveis a luz em sua estrutura física.

Quem quiser se aprofundar mais nos detalhes tecnológicos de discos do tipo Compact Disc, pode consultar um trabalho de 2003 que é bastante completo sobre o tema. Há também um artigo meu, esse em português, que aborda a preservação de documentos digitais, considerando a estrutura dos suportes.

Portanto, é preciso ser cauteloso sobre o que chamo de "armadilha tecnológica" para as pesquisas sobre preservação digital. Limitar os esforços a compreender e aplicar procedimentos para suportes - e, na verdade, qualquer tecnologia específica - produz produtos que, em pouco tempo, estarão muito defasados para aplicações práticas.

Até a próxima!!

terça-feira, 26 de abril de 2011

Suportes físicos 2

As ações que podem ser executadas para a preservação de acervos em geral agrupam-se em três grandes categorias: prevenção contra riscos, ações preventivas e ações corretivas.

O primeiro grupo refere-se ao planejamento de ações e procedimentos que deverão ser executados quando e se ocorrerem sinistros previsíveis, mesmo que se trate de ocorrências pouco prováveis. Nesse grupo estão exemplos como um possível incêndio, uma inundação ou mesmo um terremoto ou furtos.

O segundo grupo, ações preventivas, normalmente referem-se mais aos suportes físicos em si, ou seja, o que deve ser feito para preservar materiais específicos onde os documentos foram registrados. As ações mais comuns, geralmente, envolvem o controle ambiental: umidade relativa do ar, temperatura, presença de insetos ou incidência de luz.

No último grupo, que compreende ações corretivas, o suporte utilizado nos documentos também é o foco das atenções. Há inúmeras técnicas e procedimentos para cada tipo de suporte documental. Não é a toa que muitos defendem que a preservação corretiva ou restauração de documentos seja uma disciplina independente e que deve ser executada por profissionais especializados. O exemplo mais comum nesse grupo é a higienização de documentos, desde a remoção manual de sujidades pequenas até um banho especial nos documentos.

No universo dos documentos digitais, esses três grupos também são válidos. Apesar da importante restrição sobre restauração de documentos digitais. Há alguns trabalhos de pesquisa sobre esse assunto. Mas em geral, devido às próprias características dos documentos digitais, é geralmente impossível restaurá-los.

No universo digital, como era de se esperar, os exemplos de ações para cada um daqueles grupos são diferentes.

Podemos encaixar no grupo que se refere a combate a riscos, praticamente os mesmos exemplos para os suportes tradicionais, como prevenção a incêndio e inundações. E acrescentar cuidados como o acesso indevido, pois documentos digitais são muito mais susceptíveis a alterações em seu conteúdo ou mesmo a eliminação.

Para a preservação preventiva dos suportes digitais, os cuidados também são basicamente os mesmos, como o controle do ambiente. A diferença fundamental em relação a documentos tradicionais ocorre em relação aos valores numéricos específicos. Além dos documentos digitais serem muito mais susceptíveis a variações nas condições ambientais.

Continuamos no próximo.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Preservação dos suportes físicos

Chega a ser curiosa a compreensão incorreta sobre uma das características nos documentos digitais. Tal compreensão é comum mesmo entre profissionais que lidam com algum tipo específico de documento digital. A confusão refere-se à existência ou não de um suporte físico.

Não deveria haver dúvida alguma sobre o fato que qualquer documento digital, independentemente de qualquer característica, possui um suporte físico, sempre. Mas essa dúvida aparece com bastante frequência.

Um palpite meu que explicaria essa percepção é a grande dinamicidade dos documentos digitais manifestada através do uso de muitas cópias funcionalmente idênticas ao original em locais geograficamente distintos, muitas vezes em continentes diferentes. E isso tudo em intervalos de tempo de segundos.

Um exemplo que tenho utilizado para ilustrar o quanto um documento digital sempre precisará de seu respectivo suporte físico é o caso de transmissão dos bits de um documento digital via satélite. Nesse caso extremo, os bits estão sendo transmitidos no espaço sideral. Em casos como o envio de documentos digitais (p. ex. fotos digitais) de outro planeta ao nosso - como ocorreu recentemente pela sonda espacial enviada a Marte – esses bits são transmitidos até mesmo num meio sem atmosfera. Então nesse caso essas fotos digitais não precisaram de suporte físico?

Precisaram sim, como qualquer foto digital gravada em um disco comum. O fato é que a essa transmissão não poderia ter ocorrido sem um suporte físico na origem da transmissão, como os fotosensores da câmera digital, além de memórias eletrônicas, bem como um outro para a recepção dos sinais e gravação das fotos completas.

E por que é importante esclarecer adequadamente essa questão? Simplesmente porque se sempre será necessário um suporte físico, então precisamos nos preocupar em preservar esses suportes também. Isso se quisermos o sucesso da Preservação Digital.

Por isso, vamos fazer algumas considerações sobre esse aspecto da Preservação Digital nas próximas postagens.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Definição de documento digital 2

Na última mensagem publicada, apresentamos uma definição operacional para o conceito de documento digital:

Um documento digital é o equivalente a uma sequência de códigos binários registrados em algum tipo de tecnologia de memória. Organizados de acordo com determinado formato de arquivo computacional e mensurado através da quantidade de bytes total desse arquivo. Dependendo do tipo de conteúdo, haverá outras características específicas como a representação de cores, som ou texto. A interpretação desses códigos para humanos ocorrerá através de sistemas computacionais de software e hardware.”

Um possível problema com essa definição operacional é que ela possui um outro conceito não óbvio para a imensa maioria das pessoas e até para alguns especialistas: trata-se do conceito de formato de arquivo. Dessa forma, é conveniente também desenvolvermos uma definição operacional para esse importante conceito.

Formatos de arquivo nada mais são do que convenções sobre como organizar os bytes de um arquivo gerado por software. Isso é necessário porque as informações correspondentes aos bytes no arquivo gravado em algum tipo de memória possuem diferentes categorias. Explicitando melhor, alguns bytes correspondem ao conteúdo do arquivo (por exemplo texto), outros correspondem à disposição ou layout do conteúdo na tela ou na impressora, outros correspondem a alguma característica de som (no caso de arquivos sonoros). Há ainda os trechos de bytes que registram o nome do arquivo, seu autor, data de criação, tamanho total em extensão. Enfim, há uma infinidade de categorias possíveis. Quantas e quais dessas dependerá do tipo de arquivo e software que o cria.

Formatos de arquivo são, originalmente, definidos e convencionados pelos mesmos criadores do software que os produz. Por exemplo, um determinado editor de texto pode gerar arquivos no formato de arquivo XYZ que passa a ser vinculado ao software editor de texto. Um outro software para edição de imagens pode gerar arquivos no formato XYZ(2) e assim por diante. Às vezes, um software é conhecido pelo nome de seu formato de arquivo. Por outro lado, é muito comum que um determinado software utilize e até mesmo produza arquivos em vários formatos, muitos deles definidos por outras empresas ou organizações. Isso é ainda mais comum quando é definido um formato de arquivo padrão criado justamente para ser utilizado por qualquer software que tenha interesse naquele tipo de arquivo. Um exemplo são arquivos no formato JPEG2000 .

A convenção sobre quais são as categorias e quais informações específicas serão gravadas e representadas através dos bytes num arquivo de computador - bem como a posição física desses bytes nesse mesmo arquivo – resulta no que é chamado de especificação de formato de arquivo. Isso é basicamente um documento textual, muito similar a um manual técnico. Adicionalmente, muitos outros manuais podem ser disponibilizados. Um exemplo são as instruções para aplicação em softwares ou uso de características especiais como a compressão de dados no arquivo, se for o caso.

Essas especificações costumam ser agrupadas entre as proprietárias e não proprietárias. Referindo-se à existência de uma instituição ou empresa que detenha os direitos de propriedade sobre aquelas informações. Normalmente, trata-se da mesma instituição ou empresa que desenvolve e comercializa o software que gera aqueles arquivos.

Um outro agrupamento comum refere-se à publicidade dada à especificação do formato de arquivo. Nesse caso, costumam ser agrupadas entre as abertas ou fechadas. Ou seja, as informações da especificação são disponibilizadas, oficialmente, ao público ou não. Uma especificação não proprietária costuma estar disponibilizada ao público em geral, o que, raramente, acontece com uma especificação proprietária.

Há ainda uma categoria de especificações de formatos de arquivo e refere-se ao fato dela ser uma norma (oficial ou de facto). Um formato de arquivo com uma especificação na forma de norma oficial é aquele que, através de uma instituição normativa oficial como a International Organization for Standardization (ISO), é criado e atualizado. Está nesse caso a norma ISO 19005-1:2005 (Document management – electronic document file format for long-term preservation, part 1: use of PDF 1.4 – PDF/A-1). Outras especificações de formato de arquivo, apesar de não estarem na forma de norma oficial, podem se transformar numa norma de facto. Isso acontece para aqueles casos onde o formato de arquivo acaba sendo tão utilizado no mercado que acaba, informalmente, virando uma norma. O problema com essas “normas” são as possíveis diferenças entre diferentes implementações. Como não se trata de uma norma oficialmente documentada, costumam surgir “aprimoramentos” ou pequenas diferenças em relação a diferentes empresas. Esse é o caso do formato de arquivo TIFF, que apesar de ser uma norma de facto, muitos defendem que, na verdade, existem vários formatos, todos chamados de TIFF.

A partir do quadro conceitual e das informações acima, como deveria ser uma definição operacional de formato de arquivo? Propomos uma com a seguinte redação:

Um formato de arquivo é o equivalente à convenção de informações, representadas através de bytes, que dizem respeito ao conteúdo, propriamente dito, e outras informações necessárias para gravar um arquivo gerado por software ou, posteriormente, reproduzir esse arquivo para ter acesso a seu conteúdo. Essa convenção defini também a posição física e ordem dos bytes gravados no arquivo. Formalmente, essa convenção será registrada num documento chamado especificação de formato de arquivo. A qual poderá ter acesso público a seu conteúdo ou não, possuir um detentor de seus direitos autorias com restrições a seu uso ou não. E ainda pode estar na forma de uma norma oficial padronizada ou não.”

A rigor, trata-se de uma definição de formato de arquivo e especificação de formato de arquivo, mas parece atender bem nossos interesses em relação à preservação digital.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Definição de documento digital

Definir algo é uma das tarefas mais difíceis que um pesquisador precisa fazer. Precisa porque a partir do ponto de partida das definições é que se torna possível desenvolver um problema e possíveis soluções. Sem isso, simplesmente não é possível ser claro, ou seja, qual é o problema? Como, exatamente, se pretende resolvê-lo. Definições são também elementos essenciais para uma boa comunicação.

Um pesquisador e de resto todos nós sempre possuímos nossas definições para qualquer coisa. Ainda que nem sempre se trate de uma definição aceita como correta pelos demais sujeitos. O problema da comunicação é que só podemos afirmar se concordamos ou não com a definição do outro, se soubermos qual é essa definição. Em outras palavras, principalmente numa empreitada científica, a explicitação das definições que adotamos é vital para a qualidade do produto final.


Nesses termos, para tratar do tema preservação de documentos digitais, precisamos de uma definição de documento digital, de documento tradicional, além de outras definições. Por enquanto, vamos nos limitar à definição de documento digital. Como coloquei no início desse texto, definir é uma tarefa difícil. Aqui não vou entrar no mérito dessa discussão que envolve muitas linhas filosóficas. Basta dizer que o ato de definir alguma coisa foi um dos primeiros problemas filosóficos, desde Platão e Aristóteles, para citas os mais célebres.


Por outro lado, essa mesma filosofia nos subsidiará para definir o que é um documento digital através do conceito de operacionismo e definição operacional. O operacionismo é uma “doutrina segundo a qual o significado de um conceito científico consiste unicamente em determinado conjunto de operações” (Abbagnano, 2007, p. 850). Isso significa que se vamos definir uma coisa física, devemos expressá-la através das operações que possam ser utilizadas para caracterizá-la em termos físicos conhecidos e aceitos. Por exemplo, tomemos um conceito operacional de temperatura como sendo "medida obtida através do uso de uma escala calibrada para graus Celsius que compara a dilatação de mercúrio em relação ao incremento de calor no mesmo". Não se trata de uma definição teórica geral a ser amplamente aceita, mas possui uma vantagem, outro indivíduo pode repetir essas operações e chegar aos mesmos resultados, o que a torna um meio eficiente de comunicação. Essa maneira de definir foi originalmente proposta pelo físico Percy W. Bridgman (The Logic of Modern Physics, 1927).


Como seria uma definição operacional de Documento Digital?


Primeiro, vou considerar uma coisa concreta, um arquivo produzido por uma câmera fotográfica digital, ou seja, uma fotografia digital. Uma definição operacional dessa coisa pode ser: "Sequência de códigos binários registrados em algum tipo de tecnologia de memória organizados de acordo com determinado formato de arquivo computacional e mensurado através da quantidade de bytes total desse arquivo. O significado desses códigos refere-se às cores de cada ponto de uma imagem real qualquer e a quantidade desses pontos é diretamente relacionada à qualidade final do arquivo gerado".


Agora, se considerarmos outras definições operacionais correspondentes a documentos digitais como o vídeo digital, um documento digitalizado, um mensagem eletrônica, um texto digitado ou qualquer outro exemplo, haveria uma definição operacional com elementos comuns a todos esses casos? Defendemos a tese de que isso é possível e essa definição operacional pode ser derivada da definição operacional de um caso específico. Tomemos como exemplo a definição acima de fotografia digital. Assim, com algumas modificações, uma definição operacional de documento digital pode ser:


“Um documento digital é o equivalente a uma sequência de códigos binários registrados em algum tipo de tecnologia de memória. Organizados de acordo com determinado formato de arquivo computacional e mensurado através da quantidade de bytes total desse arquivo. Dependendo do tipo de conteúdo, haverá outras características específicas como a representação de cores, som ou texto. A interpretação desses códigos para humanos ocorrerá através de sistemas computacionais de software e hardware.”

Eis nosso ponto de partida.

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Preservação e Preservação Digital

A disciplina Preservação, na linha tradicional, possui, basicamente, duas vertentes. A primeira delas diz respeito aos procedimentos necessários para manter documentos em condições de acesso e uso, ou seja, tentar evitar sua natural deterioração. Isso pode ser feito através de ações preventivas de controle de umidade do ar e temperatura ambiente, controle do nível de poluentes no ar, higienização de documentos, entre outras medidas. A outra vertente compreende as ações de restauração de documentos, dentro do possível, ao estado original que esses estavam quando foram criados. Ambas as vertentes possuem seus limites e, na prática, mesmo ações completas não podem garantir a inexorável deterioração dos documentos e, de resto, de tudo que é físico e material em nosso mundo.

Dependendo da tradição original do pesquisador e do país, há divergências sobre a terminologia. Assim, às vezes, o termo preservação refere-se ao sentido que apresentamos acima, mas de alguns pontos de vista, preservação refere-se às ações preventivas, nossa primeira vertente. De maneira que as ações de restauração compõem uma disciplina totalmente independente. Seja como for, apesar das divergências terminológicas, não há como negar a existência de ambas as vertentes. Note-se que até aqui estamos falando da preservação de documentos em suportes tradicionais.

O surgimento do documento digital e sua importância, cada vez maior, no mundo contemporâneo, trouxe muitos novos desafios. Inclusive para sua preservação.

É curioso notar inclusive que, se pesquisarmos os trabalhos de autores e especialistas que trabalham com a preservação de documentos tradicionais, não encontramos referências à preservação de documentos digitais. No máximo, encontramos alguns autores que tratam da preservação de documentos eletrônicos mais antigos, do ponto de vista de hoje, como fitas magnéticas. E, ainda assim, são procedimentos de manutenção das condições climáticas dessas fitas em salas e mobiliários especiais.

A preservação digital nasceu e tem crescido como uma disciplina totalmente independente da preservação tradicional. Inclusive com novos grupos de pesquisa, novas linhas de atuação e, claro, novos problemas.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Diretrizes de preservação digital

O Arquivo Nacional e a Câmara dos Deputados disponibilizaram dois livretos com diretrizes de preservação digital.

São as versões em português já publicadas anteriormente pelo projeto Interpares 2 (2002 a 2007), no original Preserver Guidelines e Creator Guidelines.

As versões em português são Diretrizes do preservador e Diretrizes do produtor.

São documentos bem vindos na escassa literatura em língua portuguesa já publicada.

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quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Novo blog na lista

Adicionei um novo blog em nossa lista!
Trata-se de um espaço também dedicado à preservação digital, segundo o título, para iniciantes. Está em inglês e é mantido pela Megan Amaral.

Confira!!!!!