terça-feira, 5 de abril de 2011

Definição de documento digital

Definir algo é uma das tarefas mais difíceis que um pesquisador precisa fazer. Precisa porque a partir do ponto de partida das definições é que se torna possível desenvolver um problema e possíveis soluções. Sem isso, simplesmente não é possível ser claro, ou seja, qual é o problema? Como, exatamente, se pretende resolvê-lo. Definições são também elementos essenciais para uma boa comunicação.

Um pesquisador e de resto todos nós sempre possuímos nossas definições para qualquer coisa. Ainda que nem sempre se trate de uma definição aceita como correta pelos demais sujeitos. O problema da comunicação é que só podemos afirmar se concordamos ou não com a definição do outro, se soubermos qual é essa definição. Em outras palavras, principalmente numa empreitada científica, a explicitação das definições que adotamos é vital para a qualidade do produto final.


Nesses termos, para tratar do tema preservação de documentos digitais, precisamos de uma definição de documento digital, de documento tradicional, além de outras definições. Por enquanto, vamos nos limitar à definição de documento digital. Como coloquei no início desse texto, definir é uma tarefa difícil. Aqui não vou entrar no mérito dessa discussão que envolve muitas linhas filosóficas. Basta dizer que o ato de definir alguma coisa foi um dos primeiros problemas filosóficos, desde Platão e Aristóteles, para citas os mais célebres.


Por outro lado, essa mesma filosofia nos subsidiará para definir o que é um documento digital através do conceito de operacionismo e definição operacional. O operacionismo é uma “doutrina segundo a qual o significado de um conceito científico consiste unicamente em determinado conjunto de operações” (Abbagnano, 2007, p. 850). Isso significa que se vamos definir uma coisa física, devemos expressá-la através das operações que possam ser utilizadas para caracterizá-la em termos físicos conhecidos e aceitos. Por exemplo, tomemos um conceito operacional de temperatura como sendo "medida obtida através do uso de uma escala calibrada para graus Celsius que compara a dilatação de mercúrio em relação ao incremento de calor no mesmo". Não se trata de uma definição teórica geral a ser amplamente aceita, mas possui uma vantagem, outro indivíduo pode repetir essas operações e chegar aos mesmos resultados, o que a torna um meio eficiente de comunicação. Essa maneira de definir foi originalmente proposta pelo físico Percy W. Bridgman (The Logic of Modern Physics, 1927).


Como seria uma definição operacional de Documento Digital?


Primeiro, vou considerar uma coisa concreta, um arquivo produzido por uma câmera fotográfica digital, ou seja, uma fotografia digital. Uma definição operacional dessa coisa pode ser: "Sequência de códigos binários registrados em algum tipo de tecnologia de memória organizados de acordo com determinado formato de arquivo computacional e mensurado através da quantidade de bytes total desse arquivo. O significado desses códigos refere-se às cores de cada ponto de uma imagem real qualquer e a quantidade desses pontos é diretamente relacionada à qualidade final do arquivo gerado".


Agora, se considerarmos outras definições operacionais correspondentes a documentos digitais como o vídeo digital, um documento digitalizado, um mensagem eletrônica, um texto digitado ou qualquer outro exemplo, haveria uma definição operacional com elementos comuns a todos esses casos? Defendemos a tese de que isso é possível e essa definição operacional pode ser derivada da definição operacional de um caso específico. Tomemos como exemplo a definição acima de fotografia digital. Assim, com algumas modificações, uma definição operacional de documento digital pode ser:


“Um documento digital é o equivalente a uma sequência de códigos binários registrados em algum tipo de tecnologia de memória. Organizados de acordo com determinado formato de arquivo computacional e mensurado através da quantidade de bytes total desse arquivo. Dependendo do tipo de conteúdo, haverá outras características específicas como a representação de cores, som ou texto. A interpretação desses códigos para humanos ocorrerá através de sistemas computacionais de software e hardware.”

Eis nosso ponto de partida.

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

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